segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

China-EUA: a luta pela supremacia mundial

Recentemente, foi amplamente divulgado no site da conceituada publicação científica Next Big Future (http://www.nextbigfuture.com/) instigante estudo realizado pelo prestigioso Georgia Institute of Technology que enfatiza, de forma magistral, a luta renhida que vem sendo empreendida entre os Estados Unidos e a República Popular da China no sentido de conquistar e manter a liderança mundial na economia e, também, no que concerne ao desenvolvimento científico-tecnológico.

O referido estudo vaticina que, em 2030, o portentoso país asiático irá superar a economia norte-americana, fruto das medidas que tem colocado em prática no sentido de desenvolver, de forma ativa e fecunda, destacados setores da ciência e da tecnologia, e converter esses desenvolvimentos em produtos e serviços para serem lançados, de modo impactante, no mercado mundial.

De maneira análoga, interessante artigo publicado na Harvard Business Review, edição de dezembro de 2010, assinala que "de maneira quase desapercebida para o mundo, durante os últimos quatro anos a China tem se movido para uma nova fase de crescimento, passando de uma economia manufatureira de baixo e médio desenvolvimento tecnológico, para uma outra, mais sofisticada, empregando alta tecnologia".


O que ocorreu para que fosse implementada mudança tão radical em curto espaço de tempo? Certamente, a resposta está na consistência estratégica do governo chinês. Se bem que o firme propósito de converter o país em uma potência tecnológica de primeiro nível tenha ficado plasmado, como alta prioridade, na 17ª Conferência do Partido, realizada em outubro de 2007, é importante destacar que este ambicionado objetivo precede o referido evento.

A materialização dessas metas progressistas estão calcadas no estabelecimento de rotas distintas, porém convergentes. Primeiramente, selecionaram 17 áreas e um grupo de empresas-chave em cujo entorno, de modo sinérgico e participativo, concentraram esforços e efetuaram amplas inversões.

Em segundo lugar, por via de inversão direta em pesquisa e desenvolvimento. Faz-se mister destacar que esta vem crescendo 21% ao ano durante os últimos dez anos e, em 2016, com certeza alcançará o patamar onde se encontra os Estados Unidos.

Em terceiro lugar, através da massiva transferência de tecnologia proveniente das empresas estrangeiras que estão presentes no território chinês. Isto é conseguido por maneiras diversas, desde o estabelecimento de incentivos fiscais até a obrigatoriedade de associarem-se com companhias chinesas, passando pela possibilidade de exclusão de contratos sociais às empresas que não cedam aos requerimentos de conteúdo tecnológico.
Em quarto lugar, comprando companhias com tecnologia útil no exterior. Em quinto lugar, oferecendo generosos incentivos para o retorno de talentos chineses residindo no exterior. E, finalmente, investindo copiosamente em educação e na formação de quadros tecnológicos e de mão-de-obra altamente qualificada.
Observamos, na atualidade, que, paradoxalmente, os Estados Unidos transitam exatamente pela via inversa. O financiamento oficial para ciência e tecnologia não tem aumentado, em termos reais, desde 1995. Ou seja, o país carece de uma ampla visão estratégica e responde a programas de curta duração e baixa interconexão.
As corporações norte-americanas, que costumam albergar o grosso da inovação tecnológica, vêm sistematicamente cedendo tecnologia, em profusão, para acesso imediato do mercado produtor. Ocorre que, de uma forma indireta, acaba carreando imensos benefícios para os produtores chineses, ávidos por importar novidades tecnológicas que possam lhes trazer benesses industriais com baixo custo em pesquisa.

Desde a conhecida crise da denominada "nova economia", ocorrida a partir do início deste milênio, os Estados Unidos têm deixado escapar parte fundamental de seu plantel tecnológico formado por massa crítica de origem indo-chinesa.

Simultaneamente, as restrições impostas após os atentados de 11 de Setembro para a obtenção do "H1B Work Visa", a profissionais altamente qualificados, têm negado ingresso no país de cérebros privilegiados oriundos de vários rincões do planeta. Embora a boa qualidade de suas universidades tenha se preservado, o nível médio educacional vem perdendo, sistematicamente, competitividade internacional.

A atitude laxa que vem sendo adotada pelo Governo dos Estados Unidos contrasta com a férrea consistência dos objetivos colimados pelos próceres chineses. Se os norte-americanos não adotarem uma atitude mais proativa, como o fez nos anos 60 do século passado, por ocasião da corrida espacial com os soviéticos, inexoravelmente perderão a sua supremacia mundial.

*Coronel-Aviador Refm; conferencista especial da ESG, membro emérito do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e conselheiro do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica (Incaer).

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