quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

PT, 31, diz que ‘direita’ tenta destruir legado de Lula

Angeli
Reunido em Brasília para celebrar o 31º aniversário do PT, o diretório nacional da legenda aprovou nesta quinta (10) uma “resolução”.
Na peça, o partido faz uma defesa enfática da herança do governo Lula. Um legado que, sem alarde, Dilma Rousseff cuida ajustar.
No texto do PT, finge-se que Dilma é mera “continuidade”, “aprofundamento” de Lula –“O terceiro governo democrático e popular”.
O petismo prefere enxergar na “direita” a ameaça ao testamento de seu líder.
O PT anota que, “além de tirar o país da rota da miséria [...], Lula se tornou líder mundial inconteste”.
Escreve que “líderes dos mais diferentes países e ideologias [...] colocam Lula no topo das personalidades políticas mais importantes do mundo”.
Acrescenta: “Isto a direita brasileira também não aceita”. Sem mencionar nomes ou siglas, o PT mira no PSDB e no DEM:
“Desvalorizar as profundas mudanças ocorridas no país nestes últimos anos e desconstruir a liderança política de Lula são essenciais para o plano da direita brasileira de voltar ao poder e interditar nosso projeto estratégico”.
Curiosamente, a oposição frequenta a cena política com rara desarticulação. Às voltas com disputas internas, PSDB e DEM fazem quase tudo, menos se opor.
Dilma, ao contrário, promove um gradativo e meticuloso desmonte da herança de Lula. Diz a resolução petista, já na abertura:
“O Diretório Nacional [...] celebra não só o 31º aniversário do PT como o início auspicioso do governo da companheira Dilma Rousseff”.
O vocábulo “auspicioso” contrasta com os cortes orçamentários de R$ 50 bilhões que o governo acaba de levar às manchetes.
Na eloquência da cifra, uma evidência de que Dilma não parece conviver bem com a tese de que recebeu do antecessor e patrono uma herança fiscal benigna.
Noutro trecho, o texto do PT sustenta que o desenvolvimento brasileiro “é condição essencial para assegurar a presença soberana [do país] no mundo”.
Advoga “o prosseguimento de uma política externa altiva e ativa, que assegure lugar privilegiado para o Brasil e para a América do Sul no mundo multipolar”.
Nessa matéria, de novo, foi Dilma Rousseff quem “desconstruiu” Lula, não a oposição.
Em sucessivas manifestações, ela tomou distância do Irã, uma ditadura à qual Lula se achegara sem pejo.
Dilma fez defesas enfáticas do respeito aos direitos humanos. Aqui, no Irã, em Cuba e em toda parte. Lula, como se sabe, claudicou nesse tema.
Segue a resolução: "Cabe ao PT [...] a tarefa de servir de elo de ligação com a sociedade, especialmente com as demandas dos trabalhadores e dos mais desprotegidos”.
Nesse ponto, é Dilma quem, de novo, se distancia de Lula. O antecessor privilegiara as centrais sindicais no debate sobre o salário mínimo.
Dilma até tentou conservar-se na mesma trilha. Abriu uma mesa de negociação com as centrias. Deu em desacordo.
Ela deu de ombros para o baronato sindical, pisou no acelerador e age para aprovar no Congresso, a toque de caixa, o seu mínimo de R$ 545.
Ironicamente, a “direita” faz agora o papel que era exercido pelo ex-PT na Era FHC. Defende o mínimo de R$ 600, acima dos R$ 580 reinvindicados pelas centrais.
A alturas tantas, o PT dedica um parágrafo de sua resolução à sustentação congressual da gestão Dilma.
“A unidade da base de sustentação do governo supõe que todos os partidos tenham acesso às responsabilidades da administração”.
Onde se lê “acesso às responsabilidades da administração”, leia-se: aparelhamento e ocupação predatória da máquina estatal.
O PT escreveu: “Esta participação se fará sempre em base a grandes orientações programáticas e a critérios de capacidade política e técnica e da probidade dos indicados”.
Também aqui, tomada pelos seus últimos gestos, é Dilma quem desfaz o que Lula fez. Mencione-se, por eloqüente, o caso de Furnas.
Sob Lula, apossou-se do comando da estatal o grupo do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Sob Dilma, tentou-se dar uma sobrevida ao e$quema.
A presidente levou o pé à porta, desenfurnou Eduardo Cunha e deu de ombros para as ameaças do PMDB. Portou-se como uma autêntica anti-Lula.
O PT deveria esquecer a “direita” e concentrar-se em Dilma. Com boa vontade, talvez enxergue nela não a “continuidade”, mas uma tentativa de aperfeiçoamento de Lula.
O partido também fingir que nada sucede, levar Lula ao altar supremo e, mais adiante, tachar Dilma de “direita”.

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