sexta-feira, 29 de julho de 2011

Mais sal e gordura, menos salada

Marcelo Elias/Gazeta do Povo / Hismara e os filhos na praça de alimentação de um shopping: lanches agradam mais às crianças do que refeições feitas em casa

Segundo o levantamento, realizado a partir de uma amostra de domicílios da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009, a grande maioria dos brasileiros não consome os 400 gramas diários de frutas, legumes e verduras recomendados pelo Ministério da Saúde. A quantidade equivale a três porções de frutas e três de verduras e legumes por dia.
A falta desses nutrientes é ainda mais preocupante entre os adolescentes, que são os que menos consomem saladas e que abusam de bolachas, macarrão instantâneo e chocolate. O consumo médio diário de açúcar total entre os adolescentes foi cerca de 30% maior do que o dos idosos e entre 15% e 18% superior ao dos adultos.
A consequência da má alimentação é que menos vitaminas são consumidas. Segundo o estudo, praticamente todos os brasileiros consomem menos vitaminas D e E do que o recomendado – a quantidade varia conforme a idade. Outra deficiência é com relação ao cálcio: dos 10 aos 13 anos, por exemplo, 96,4% dos meninos e 97,2% das meninas registraram ingestão abaixo do valor mínimo diário recomendável, de 1.100 mg.
Os hábitos alimentares têm algumas pioras com o aumento da renda. A ingestão de alguns componentes de uma dieta saudável, como arroz, feijão, peixe fresco e farinha de mandioca, diminui à medida que aumenta o rendimento familiar per capita, diz o estudo. Também é elevado o consumo de pizzas, salgados fritos, doces e refrigerantes. Por outro lado, foram registrados aumentos no consumo de frutas, verduras e laticínios diet/light.
Riscos
A má alimentação traz riscos à saúde e deixa médicos em alerta. Marcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, observa que as consequências já são vistas no curto prazo, através do aumento do sobrepeso e obesidade e de doenças crônicas, como diabete, colesterol e gordura no fígado. A médio prazo, explica, surgem doenças associadas à obesidade e a longo prazo aumenta a necessidade de leitos hospitalares, por causa de enfarte e derrame cerebral.
“Eu sou pessimista. A tendência é piorar [o hábito alimentar], principalmente porque a tendência do indivíduo na escolha de um alimento não é levar em conta se é saudável ou não. Escolhe por preço, prazer e conveniência”, diz Mancini. Para o cardiologista Ever­ton Cardoso Dombeck, do Hospital Costantini, em Curitiba, os maus hábitos alimentares têm relação com a correria do dia a dia. “A pessoa prefere comer um sanduíche que sentar e comer um prato com arroz, feijão, salada, grelhado.”
Para reverter o quadro, a professora de Educação Nutricional da Universidade Federal do Paraná Regina Maria Ferreira Lang defende o retorno do prazer às refeições e da preparação dos pratos em família, além da conscientização da população desde cedo. Segundo ela, os hábitos alimentares são formados até os 2 anos de idade.
Bons exemplos
A pesquisa do IBGE mostrou bons exemplos entre a população. Um deles é que a frequência de consumo de produtos industrializados diminui com a idade. Além disso, a população rural consome mais arroz, feijão, peixes frescos, farinha de mandioca, manga, açaí e batata-doce na comparação com o meio urbano.
As informações da pesquisa devem ajudar o governo federal na implantação de políticas públicas. O Ministério da Saúde está desenvolvendo um plano nacional de prevenção e controle à obesidade e outro de enfrentamento a doenças crônicas não transmissíveis para este ano.

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