Os governos de países emergentes estão sendo cobrados a adotar medidas para combater o avanço da obesidade, que nas últimas três décadas atingiu níveis alarmantes em economias em rápido crescimento. Pelos dados inéditos divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), há indicações de que o rápido crescimento do Produto Interno Bruno (PIB), o sobrepeso e a obesidade dispararam em países como Brasil, China, Índia, África do Sul e México.
Um estudo divulgado neste ano pela Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta que, nos últimos dez anos, 39,5 milhões dos brasileiros mais pobres melhoraram de vida e ingressaram na classe C, que hoje agrega 55% da população total, com cerca de 100 milhões de integrantes. O movimento foi acompanhado por um aumento nas taxas de excesso de peso, que passaram de 42,7%, em 2006, para 48,1%, em 2010, segundo a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde (MS). No mesmo período, os índices de obesidade saltaram de 11,4% para 15%.
“A forma com que calculamos o desenvolvimento econômico é simplesmente a medida do quanto consumimos. Então, quanto mais você consume, mais rico você é”, resume S. V. Subramanian, professor de Saúde da População e Geografia da Universidade de Harvard.
No próximo mês, líderes mundiais se encontram na primeira cúpula de alto nível da Organização Mundial da Nações Unidas (ONU) sobre doenças não transmissíveis, que incluem a obesidade. Eles serão pressionados a adotar medidas de controle e regulamentação sobre a indústria alimentícia, assim como sistemas para identificar potenciais complicações de saúde em estágio inicial.
A prevalência da obesidade aumentou em países emergentes de forma muito mais rápida que a renda, e mais veloz ainda do que em países desenvolvidos, ao longo das três últimas décadas. Na China, estima-se que 100 milhões de pessoas estejam com sobrepeso. Em 2005, eram 18 milhões.
No Brasil, a obesidade cresce mais rapidamente entre as crianças. No total, 16% dos meninos e 12% das meninas com idades entre cinco e nove anos são obesos no País, quatro vezes mais do que há 20 anos. Um em cada sete adultos mexicanos está acima do peso, proporção que fica atrás apenas dos EUA entre as principais economias do mundo.
Apesar de os especialistas observarem a relação entre o aumento da obesidade e o crescimento da riqueza há outros fatores para o crescimento tão rápido. “Vimos um aumento dramático nos níveis de obesidade em países emergentes, e este índice parece estar crescendo mais rapidamente e em meio a níveis mais baixos de PIB do que na Europa ou nos EUA há 20 ou 30 anos”, afirma Tim Lobstein, da Associação Internacional para o Estudo da Obesidade.
No caso de países emergentes, Lobstein diz que a mudança de comportamento mais importante é a chamada “transição da nutrição”, de uma dieta com alimentos básicos para uma “dieta modernista”, que consiste em alimentos de nível energético muito maior. “Isso significa menos frutas e verduras, ou menos alimentos básicos como arroz e grãos, e mais gorduras, açúcar e óleo. Esses vêm particularmente sob a forma de fast-food e refrigerantes”, exemplifica.
A demanda por calorias acessíveis e produzidas em massa disparou nesses países, particularmente dentro das classes emergentes, que hoje podem gastar mais de sua renda em comida. Mas Subramanian alerta que a obesidade é um fenômeno que afeta principalmente as classes mais privilegiadas em países de renda baixa e média, e até em economias emergentes.
Quando os líderes mundiais se encontrarem por dois dias na cúpula da ONU sobre doenças não transmissíveis a partir de 19 de setembro, organizações de saúde pressionarão por regulamentações para controlar a quantidade de gordura, açúcar e sal em alimentos processados. “Esperamos que a reunião da ONU aumente a visibilidade de doenças não transmissíveis, ao mostrar que não se trata apenas de um assunto de saúde, mas envolve também a cadeia de produção alimentar”, afirma Deborah Malta, representante do MS. “Precisamos de políticas públicas e regulamentações não apenas para a indústria alimentar, mas também para tabaco, álcool e um número cada vez maior de setores”, conclui Deborah.
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