segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Ontem nosso querido estado completou 510


Sete de agosto (ou 17 e até mesmo 16) de 1501. Para boa parte dos potiguares esta data não quer dizer muita coisa, mas para a história do Rio Grande do Norte significa bastante. Há 510 anos uma expedição portuguesa formada por três naus, contando com o famoso navegador italiano Américo Vespúcio - que dá nome ao continente americano - em sua tripulação, deixou um monumento de pedra na altura do que hoje é a Praia de Touros, Litoral Norte do Estado, como um marco de que aquelas terras pertenciam ao Reino de Portugal. O início da comemoração da chegada da expedição, comandada pelos navegadores Gaspar de Lemos e André Gonçalves, a mando do rei português D. Manoel I, só foi demarcada há pouco mais de 11 anos, pela Lei Estadual 7.831/2000 e estabelece o dia 7 de agosto como data oficial. Apesar do simbolismo poucas são as pessoas que sabem o que é comemorado neste dia.

A expedição que passou pela Praia de Touros e demarcou o território do que seria solo potiguar foi de fundamental importância para a identificação das terras portuguesas de "além-mar". "Esta expedição foi a primeira promovida após o descobrimento, realizado por Pedro Álvares Cabral em 1500. Após passarem por aqui, seguiram pelo litoral deixando outros marcos e nomeando os acidentes geográficos com os santos de cada dia, como era de costume", explicou o professor de história Luiz Eduardo Brandão Suassuna, mais conhecido como Kokinho. O prosseguimento desta expedição marítima acabou batizando o que hoje são os cabos de São Roque e Santo Agostinho, além da Bahia de Todos os Santos, por exemplo.

O marco deixado por Gaspar de Lemos e André Gonçalves, feito de pedra lioz e contando com o brasão de armas do rei de Portugal e a cruz da Ordem de Cristo, esteve na Praia de Touros até 1976. Foi retirado da praia devido a deterioração. Hoje o marco encontra-se no Forte dos Reis Magos. Apesar da marcação do que seria o território norte-riograndense ter sido realizada logo na segunda expedição portuguesa que oficialmente esteve na terra brazilis, a ocupação foi bastante tardia. Somente a partir do fim do século, por volta de 1598, que iniciaram-se processo de habitação da então capitania do Rio Grande. "À época, o interesse de Portugal não era nossas terras, mas sim no comércio com o Oriente. Por isso, a ocupação foi tão demorada", afirmou Kokinho. O abandono da capitania hereditária do Rio Grande e a forte resistência indígena à ocupação portuguesa, segundo o professor, também contribuiram para a demora quase secular na ocupação das terras potiguares. 

Dia do Rio Grande do Norte: desconhecido e desprezado

Apesar de já ser instituido por lei, proposta pelo então deputado estadual Valério Mesquita, há mais de 10 anos como Dia do Rio Grande do Norte, a data de sete de agosto pouco é conhecida entre os próprios potiguares, na mesma proporção que é pouco valorizada pelo próprio poder público. Nem o poder legislativo, nem o executivo tem programações comemorando a chegada oficial dos portugueses nas terras potiguares.

O próprio site oficial do Governo do Estado faz somente um referência ao dia do RN, misturada entre várias datas comemorativas postas em um calendário anual, e nenhuma solenidade ou algo do gênero comemorando os 510 anos do Estado. Segundo o cerimonial da Assembleia Legislativa, até a sexta-feira passada - dois dias antes da data comemorativa - a casa legislativa não possuia nenhuma programação voltada para o dia sete de agosto.

Entre a população o desconhecimento quanto a significação do dia sete de agosto não é incomum. Em uma enquete rápida realizada pela reportagem de O Poti/Diário de Natal, apenas uma pessoa soube dizer o que o dia de hoje significa para o Estado. Mesmo profissionais que deveriam saber da data - professor e turismólogo -, afirmaram desconhecer o que comemora-se neste domingo, desde 2000.

Nenhum dos seguintes questionados - a auxiliar de enfermagem aposentada Maria das Neves, 60 anos; o pedagogo Estevão Ferreira, 30 anos; o dono de banca de revistas Francisco Eutrópio, 58 anos e a turismóloga Ana Targino, 27 anos - soube responder o que o dia de hoje significa para o RN. Todos também uniram-se em coro para afirmarem que os potiguares não tem muito o que comemorar neste dia. "O Estado em si tem recursos, tem riquezas, mas o que falta mesmo é gestão. As administrações estão deixando muito a desejar ao longo do tempo", disse Maria das Neves.

"Apesar das grandes figuras que temos e tivemos, como Câmara Cascudo, por exemplo, não se vê muitos avanços no RN", lamentou Francisco Eutrópio. Único a acertar a questão, o proprietário do Sebo Vermelho, Abimael Silva, afirmou também não pensar diferente de quem não conhece a data. "Não há nada o que se comemorar neste sete de agosto e a culpa é do poder público, que não faz uma comemoração decente na data. O RN ainda está sendo descoberto, o elefante ainda está adormecido", pontuou Abimael.

A falta de conhecimento da história potiguar pelos próprios moradores do Estado deve-se a própria falta de divulgação e não a um desprezo pelo passado, na opinião do professor Kokinho. Segundo ele, aos poucos a situação tem melhorado e ainda acredita que as gerações futuras deverão valorizar mais todo o processo histórico que formou os próprios potiguares. "A maioria da população não valoriza por que realmente não conhece. Só pode se dar valor a algo que se conhece", explicou o professor de história.

Para Kokinho, datas como a de hoje não devem ser comemoradas e sim servir como momento de reflexão. "A partir destas datas, o potiguar deve pensar em quatro coisas: consciência política e cultural, preservação do patrimônio material e imaterial, resgate das obras literatas de interesse local e o incentivo na educação básica ao estudo e ao gosto pela história potiguar", finalizou o historiador.
 
Fonte: DN Online 

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